sexta-feira, junho 10, 2011


Quando a gente não tem uma pequena almofada de veludo pra nela acomodar todos os sentimentos que julgamos ser bons, o "melhor de nós", aquele brinquedinho que é tão brilhante que a gente esconde de quase todo mundo, porque é bonito (precioso) demais (podem roubar), e também pra não ficar ligando toda hora, gastando pilha - enfim, me perdi no aposto - (continuando) quando a gente não tem essa superfície macia, a gente fica segurando na mão, dentro de um saquinho, de pano. 

O tempo passa e tu enches o saco de ficar segurando aquilo, quase esquecendo do quão bonito é aquele brinquedinho, e esquecendo de vez, depois. Tu esqueces porque tu não abres esse saquinho há tanto tempo que nem se lembra mais o que tem dentro. São tantas as distrações.

Aí tu começas a deixar ele no chão. Foda-se. Em qualquer canto, em qualquer lugar. Perde, até, ás vezes. Aí encontra sem querer, no meio das tuas roupas. Aí perde denovo. Nem se lembra que um dia teve esse brinquedinho, nem pra que ele serve. Aí sim.

É aí que chega o alguém. Aquele (a, es, ou as) mesmo. Nada nesse mundo te faria acreditar que existiria alguém assim, tão... tão... bom. Tu vais ao cinema, ver um filme qualquer junto dessa pessoa, um Almodóvar da vida, no Espaço Unibanco ali da Augusta, que seja. Tudo se torna tão especial, fica tão cheio de significados que você se entusiasma. "Eu te daria o mundo, agora, se eu conseguisse". "Não precisa me dar o mundo, me dá qualquer coisa brilhante, um brinquedinho".

Tu tateias os bolsos. Moedas, palhetas, notas fiscais, preservativos e cartões de visita. Tu perdeste o brinquedinho. Não adianta procurar, também. Esse é o tipo de coisa que, quando a gente encontra, a gente não devolve. Não tem dono, não tem nada escrito. Faz parte do mundo e tem um pouco do melhor que há em cada um de nós. E brilhava.  

Lucas Silveira

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